Intolerância e os resquícios da idade média

Intolerância e os resquícios da idade média

A homofobia, historicamente, vem enfaixada num manto de hipocrisia fundada nas mais diversas justificativas. Inicialmente, como algo pecaminoso, pregado pela Igreja Católica nos tempos da inquisição e que levaram diversos casais homoafetivos às fogueiras santificadoras. Depois, visto como crime com o fim de afastar as relações entre as pessoas do mesmo sexo da circulação social. Por fim, já na modernidade, como doença e como causadora de doenças transmissíveis e doenças sociais. Tinha até C.I.D.(Código Internacional de Doenças): 302.0.

A Organização Mundial da Saúde, premido pelos movimentos que exigiam mudanças no enfrentamento à discriminação sexual, mormente o Movimento Internacional Pelos Humanos e LGBT, em 17 de maio de 1990 extinguiu o C.I.D. que configurava como doença os comportamentos homoafetivos, elevando a discussão a patamares sócio-culturais de orientação sexual – não no contexto de gênero, mas de afetividade humana.

Um dos segmentos que estão no início de sua ocupação no espaço vivencial comum, é a chamada comunidade homoafetiva, cuja luta pelo reconhecimento ao direito de simplesmente amar sem rotulações ainda enfrenta desafios sociais de intolerâncias que beiram do sórdido ao desumano.

Isto fez com que a data de 17 de maio fosse lembrada como um marco reformador do pensamento e comportamento social e, de certa forma “comemorada” como um avanço à derrubada de um anacronismo histórico e imperdoável para uma sociedade que diz querer ingressar em uma nova era das relações humanas e sociais.

Às vezes nos pegamos em uma reflexão que reputamos descabida na medida em que chegamos ao século 21 e ainda discutimos o óbvio, algo que deveria ter sido superado até em razão da chegada da tecnologia fina e comunicação fácil: estarmos subjugados por leis que, pasmem, punem os que agridem crianças, seviciam mulheres, maltratam idosos, discriminam negros, odeiam homoafetivos, como se tais comportamentos não tivessem que estar superados há décadas mas teimam em dualizar nossas convicções doentias: ou pensa e age assim ou está fora do padrão. Padrões ditados por quem, mesmo?

A tolerância – que é a antítese do dualismo –, ainda não ocupa o espaço comportamental mínimo de boa convivência social e humana que deveria regrar as relações civilizadas, sendo que estas relações deveriam ainda estar permeadas pela generosidade, humildade, ética e amor.

Esta é a complexidade que devemos tentar entender a fim de que aceitemos os outros assim como queremos ser aceitos.

Sim ao amor incondicional: não ao desrespeito, intolerância e aos preconceitos. Viva o dia 17 de maio.

Por Ricardo H. Cézar

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